quarta-feira, 14 de maio de 2008

Da dificuldade de dizer te amo

Deitados, logo depois de transar. No momento em que acontece o desencaixe. Segundos após os lábios se separarem. Ela fala: Eu te amo. Assim, sem gim, sem uísque, morfina. Tudo gira no quarto, e não era por causa do vinho. Era o eu te amo. Aquela frase que se escuta tanto no cinema, mas que é muito séria de se dizer. Ele finge que não escutou, porém, feito uma tatuagem na bigorna e no martelo, ela se aloja nos tímpanos e fica. Ela adormece. Assim, sem justificar o amor. Ele, não

A madrugada era fria. Meses de outono com jeito de inverno. Amar, para ele, era mais sério do que casar. Casa-se, descasa-se, mas amar, amar é bem mais difícil. E outra, quem te garante que estás amando e não apaixonado? E ela, por que ela o amava? Quem deu o direito dela amá-lo? Era complicado. Estava em um abismo, o ar não chegava mais nas suas narinas. Sentia-se sufocado. Tentou acomodar-se no lado da cama que ainda estava vazio. Longe dela, do romantismo desacerbado. Ali, na parte fria do lençol, queria fugir. Enlouquecer, agarrar milhares de mulheres, comê-las, ver seios, bundas, pêlos. Nunca mais poderia agarrar outra donna. Não, ele não era um cafajeste.

Olhou no relógio da mesa de cabeceira: duas e meia da manhã. Nada do sono chegar. Pensou nas outras namorada que tivera. Como fora fácil dizer eu te amo para elas. No entanto, resignara-se, ficara pragmático. O amor tornou-se algo ruim para ele, sem que nem soubesse o por quê.

Ouvia o ressonar da namorada. Sem dúvida, ninguém mais do que ela merecia ouvir um eu te amo. Era doce, sincera, atenciosa, carinhosa. Era a paz, a paz que a gente não está acostumado, sabe. E ela era isso,  a pessoa fácil de amar. Fácil de se ficar. O mar sem ondas, a floresta sem brisa. Contudo, era ela que ele queria para passar a vida. Era o amor sem pressa, sem prazo.

E o tempo foi passando, passando e chegou a hora de irem para os seus trabalhos. Ela feliz, por ter dito o que sentia. Ele, com sono, por não conseguir amar, por não saber o por que de amor ser sinônimo de dor e brigas.

2 comentários:

Carol disse...

Eu tava sentindo falta de ler essas coisas no teu blog!! Gostei muito!
Beijocas.

Carla Arend disse...

acabei de vomitar um monte de pregos. puta texto, marcelo, puta texto.